





Inevitável a tentação de comparar, quando temos, por exemplo, duas adaptações da mesma obra. O livro de Anton Chekhov foi transformado em Tio Vânia em Nova York (por Louis Malle), onde se percorria o último ensaio de uma companhia teatral, antes da peça entrar em cartaz. Já neste aqui (com roteiro de Julian Mitchell) a história é transportada para dentro de sua realidade, e a locação na fazenda no País de Gales enriquece pelo aspecto visual criando o habitar desses personagens, a formalidade nas vestimentas e a riqueza dos objetos.
Só que a comparação entre os filmes em momento algum é benéfica para Outono de Paixões. Falta intensidade e emoção, peca pelo que o outro tem de sobra, a atmosfera. De longe, Anthony Hopkins parece um apaixonado pelo texto, assim para afagar seu ego deve ter decidido dirigir e atuar a adaptação. Seu efeito é um filme levemente penso para o lado de seu personagem.
Sua atuação não chega a ser afetada (no sentido figurado da palavra) ou espalhafatosa, mas essa centralização tira foco de outros personagens e prejudica a confecção do angustiante momento sentido por cada membro da família. São amores não correspondidos, sentimentos negativos e cheios de rancor guardados nos corações, são pensamentos individualistas e egocêntricos.
A grande ajuda ao filme é o ótimo texto de Anton Chekhov, são personagens tão ricos que qualquer construção, mesmo irregular, promove ritmo agradável e cenas intrigantes. Falta a Hopkins tato em perceber que é um filme sem atores principais, onde cada personagem divide a história em partes assimétricas. Faltam aos atores paixão, ouvimos o mesmo texto e não se consegue pactuar de que se trata da mesma história, onde foram parar aqueles instantes sufocantes do filme de Malle?