
Manderlay (2005 – DIN)
Não é um repeteco de Dogville, como ecoou em alguns lugares, mas sem dúvidas não causa o mesmo impacto, principalmente visual já que se utiliza da mesma estrutura (tablado negro com demarcações, sem paredes e etc).
Lars Von Trier não perdeu a obsessão de desmoralizar a cultura americana, mas dessa vez mesmo mirando diretamente nos EUA acaba acertando toda a sociedade contemporanea. Sua fábula moral é universal, a escravidão ocorreu em boa parte do planeta e não é só disso que Manderlay trata, vai mais fundo quando tenta discutir até que ponto a liberdade é benéfica, até onde deve ir a liberdade de um indivíduo para seu próprio bem (e nesse tema ele atinge realmente os EUA e suas políticas bélicas).
Manderlay é uma pequena fazenda de cultivo de algodão, logo após sair de Dogville, Grace (Bryce Dallas Howard) depara-se com o local que ainda mantém escravos mesmo passados setenta anos desde a abolição dos mesmos. Com sua alma “caridosa” decide ficar na fazenda promulgando a liberdade e auxiliando os negros até que os mesmo estejam prontos para viverem numa democracia e tocarem suas vidas sem necessidade de ajuda. O problema é se eles estão preparados para essa mudança e quem disse que é Grace a pessoa ideal para exercer essa influência? (ou quem disse que são os EUA o ideal para libertar Iraque, Afeganistão, etc.)
Bryce Dallas Howard não é Nicole Kidman, o filme perde nessa troca, e Grace está mais didática dessa vez, seu discurso mostra-se óbvio e desnecessário algumas vezes. O roteiro por mais que trabalhe com temas polêmicos e contundentes, não parece tão bem amarrado e dá claros sinais dos segredos que reserva ao final. Mas não deixa de ser um bom, filme, engajado. Talvez sem planejar, Lars Von Trier demonstra que o ser humano é realmente um grande equívoco, nesse ponto ele tem toda razão.
Young Americans de David Bowie também encerra esse filme, novamente a música embala inúmeras fotos, dessa vez todas focadas na disputa racial nos EUA, Martin Luther King, a Klu Klux Klan e toda a miséria e diferença que marca a história dos negros nos EUA. Trier faz isso como quem diz, não se esqueçam que no fundo só estou interessado em dar mais uma cutucada no meu inimigo número um.