Nietzsche vive com sua filha num vilarejo rural em Turim, estamos em Janeiro de 1889. É Nietzsche e também não é, porque o personagem é colocado apenas como um senhor duro, rustico, que economiza nas palavras, e não move um dos braços. A filha o ajuda a trocar de roupa, o vento lá fora é incessante, poderoso, dias e dias de ventania devastando tudo. Béla Tarr segue seus personagens vagarosamente, acompanha a filha que cozinha duas batatas em cada refeição, o cuidado em tirar as botas e as calças do pai, ou em buscar água do poço.
Visualmente o filme vive dessas pequenas tarefas e do desconsolo que assola os dois, o cavalo que para de comer, o mundo que parece ser engolido pelo vento. Porém, essa seria uma visão superficial do que Tarr nos apresenta, seu cinema vigoroso e a força da imagem num preto e branco fabuloso, vão além, muito além. Sem sair do tom, é nítido o desespero, a desesperança, e uma capacidade enimgmática em buscar na repetição uma confirmação de comportamentos, de sensações. A cada vez que a porta da casa se abre, nossa sensação é de que aquele vento virá direto em nossa direção, poeira nos olhos, cabelos bagunçados. Planos longos, levíssimos travellings (em 90º), e a repetição de ações com mudança nos enquadramentos que esmiuçam comodos, pessoas, objetos. Um trabalho vigoroso, potente, um prazer contemplativo.
[…] O Cavalo de Turim, de Béla Tarr […]
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