Poucos minutos de filme e eu já questionava, comparava, me perguntava como um garoto (Thomas Doret) pode ser tão persistente, e de uma forma impetuosa, visceral. O quanto de determinado ele possui, e uma determinação furiosa, um garoto fazendo tanto esforço para uma simples ligação telefônica ao pai, queria pegar emprestado essa determinação para alguns momentos da minha vida. Não é o melhor, Rosetta continua sendo a grande obra dos irmãos Dardenne, mas talvez seja o melhor resultado do cinema naturalista dos Dardenne, esse diálogo com a Nouvelle Vague funciona aqui de maneira consistente. Uma narrativa fluída, sempre com a marca pessoal dos cineastas (de temas, a câmera na nuca dos personagens, ausência de melodrama), tratando de forma tão simples temas tão urgentes. O garoto vive num orfanato, procura o pai (Jérémy Renner, seu personagem quase poderia justificar o filme como uma continuação de A Criança), faz loucuras por sua bicicleta, por sua volúpia incisiva conquista a cabeleireira (Cécile de France) que passa a encontrá-lo aos finais de semana.
Está tudo ali, a fúria desse garoto renegado pelo pai, a necessidade de autoafirmação, a rebeldia ao carinho, o clichê da inocência perdida, ainda assim dono de um bom-senso que a idade não lhe traria (talvez tenha adquirido na vida). Jean-Pierre e Luc Dardenne diluem o melhor do seu estilo, sem invencionismos, sem paternalismo a seus personagens. Eles erram, eles pagam e sofrem as conseqüências. Não há vilões, mas sim julgamentos morais, a quebra dos limites éticos, e uma bicicleta por onde o garoto cruza as cidades pacatas de uma cidade belga, entre sua inocência e a violência que ele reflete.
E o filme do Beto Brant? Você não viu?
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Quem sabe na Mostra, Fella!
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[…] O Garoto de Bicicleta, de Jena-Luc e Pierre Dardenne […]
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