Em dado momento do filme, o pintor (Max Von Sydow) perturbado por seus fantasmas e os personagens de suas pinturas explica que a hora do lobo é aquele hora da madrugada onde a maioria das pessoas nasce e morre, a hora em que os pesadelos nos invadem. O filme é narrado por sua esposa, Alma (Liv Ullmann) lendo seus diários e conversando com a câmera sobre os fatos ocorridos recentemente.
Impossível definir o que é verdade, se é que há verdade, ou apenas uma grande alucinação. A historia claustrofóbica não nos permite adentrar em sua personalidade, e sim, sofrer com essas pressões fantasmagóricas. Seja da ex-amante, ou da velha que tira o chapéu e a pele do rosto que sai junto, ou ainda do senhor que tanto lembra Bela Lugosi. Ingmar Bergman não cria apenas esse clima perturbador com requinte, ele nos faz mergulhar, o peso dos ombros das alucinações que o fazem perder o controle recai sobre nós, vivemos a hora do lobo, não sabemos como sair dela.
Aos “frasistas” de plantão, Bergman cria uma série daquelas que podemos carregar como ensinamentos. O cineasta faz esse mergulho psicológico de forma que o clima de terror pode anular nossas próprias vidas por alguns minutos de tão entregues às presenças daqueles personagens que entram e saem, misteriosamente, sem que haja qualquer sentido além desse senso falta de controle. Um mergulho no “eu” de alguém perturbado, afastado da sociedade não só fisicamente, como psicologicamente, obcecado por um castelo, pelo convívio com… sabe-se lá quem.