Ingmar Bergman também era o cineasta da alma feminina, aquele capaz de produzir ensaios sobre as aflições e a feminilidade, o homem que captava nuances e as tranformava em poderosas representações de sensações, pouco, ou nunca, reproduzidas. Um filme sobre três mulheres grávidas dividindo um quarto de hospital, por uma noite, e o mundo de dúvidas, angústias, as incertezas, as idas e vindas de amores.
O cineasta sueco resume em três personagens, a grande maioria das possibilidades, sensações e tormentos das que carregam outra vida em seus corpos, e no quanto essa é uma experiência transcendental. Num mergulho tenso por condição física e psicológica dessas mulheres, Bergman vai desde a alegria intensa à decepção, num piscar de olhos. E os faz com a tensão de um dia de hospital pode causar. A dor que pode estar no psicológico, a maneira de se relacionar com sua própria gravidez, a intimidade que surge de outras grávidas.
O filme é sobre essa coisa inexplicável chamada maternidade, seja ela indesejável, com complicações ou interrompida espontaneamente. Ninguém passa ileso a uma experiencia dessas, casamentos desmoronam, relacionamentos se refazem ou desfazem, a mulher dialogando com seu próprio corpo e estado de espírito enquanto carrega em seu ventre o milagre da vida. Bergman deixa de lado os bebês para manter seu foco na mulher, na grávida, e nesse mundo de novas possibilidades que está nascendo.
Ou mesmo os que admitem que o personagem de Thulin, essa dama intelectual e um pouco neurótica, tome frequentemente a forma de um autorretrato do autor. A última palavra é dele: “Infelizmente somos e permanecemos analfabetos em termos de sensibilidade e sensações morais. Todos nós bloqueamos nossos sentidos. Na escola aprendemos tudo sobre história ou matemática, mas nada sobre como funciona a alma e o espírito. Não tenho certeza que eu mesmo entenda Gritos e Sussurros inteiramente. Digo sempre como Stravinsky, nunca entendi completamente uma obra de arte. Eu somente a vivi “.
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