Michael Haneke mostra o rigor de sempre, talvez mais conservador que seu normal, ainda mais meticuloso no tom de sua direção precisa e carregada. Por mais que uma história de amor, de um casal de terceira idade, toda narrada em tom de despedida, não pareça fazer parte do universo do diretor, o estilo de Haneke está impregnado em cada frame.
O casal inerpretado por Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, principalmente ele, dá show. Ela sofre um derrame, ele resume sua vida a cuidar da esposa, preenche todos os espaços, sufoca até a filha do casal (Isabelle Huppert). O filme narra a beleza da dedicação ao outro, as poucas cenas resumem o dia-a-dia de pequenas tarefas, sempre com a ausência total de emoção que é tão cara a Haneke. Sai o sentimentalismo, entra a beleza dessa dedicação desgastante, que nos cativa mesmo pela frieza do cinema de Haneke, que se não parece inspirado, consegue dialogar melhor com um público bem maior que o seu habitual.