Discurso e trilha sonora explosivos, ritmo de videoclipe, criações estéticas próprias (como a cena do vaso sanitário), o tabu das drogas contado de uma maneira que não recrimina, tinha tudo para se tornar cult. Danny Boyle filma a história desse grupo de amigos-viciados, e o filme vai além dos temas drogas e amizade. Apostando que a convergência entre os temas cria uma nova classe de relacionamento social, com seus dogmas e ética, Boyle vai fundo no vício e na vida marginal.
Abre o filme de forma frenético, com inúmeros questionamentos proferidos por Ewan McGregor. Termina questionando porque precisaria de uma vida comum se tem a heroína? É um discurso forte, a vida fétida contrasta com o prazer estampado nos rostos que se debruçam pelo chão lixento de um apartamento caindo aos pedaços. O antagonismo da sensação versus a vida caquética, não vai nos questionamentos, mas na demonstração de um estilo de vida. Da vida fácil, do prazer sem limites, e de forma mais que inconsequente.
O título faz referência aos viciados em trens, numa relação com o vício com heroína, mas a força penetrante dos momentos de “pico” é ainda mais profunda quando analisamos esse estranho grau de amizade e intimidade entre viciados nesse nível fora de controle.