O Abismo Prateado (2011)
Tomando por base a fabulosa canção de Chico Buarque (Olhos nos Olhos), o diretor Karin Aïnouz narra um momento dramático na vida de Violeta (Alessandra Negrini). O inesperado rompimento do casamento, via mensagem de voz no celular, desbaratina a dentista. Ela não consegue trabalhar, pensar, cuidar do filho. Único refugio, abandonar tudo, sair por ai, sofrer.
Quem conhece a canção sabe que ela não trata do rompimento, mas de um momento logo a seguir, um pouco mais sereno, que demostra forte afeto, porém uma maturidade para seguir adiante. Aïnouz escolhe a fase traumática, neurótica, e simplesmente mergulha a protagonista na noite carioca (bares, motel, praia, banheiro público). Um universo bem condizente com seu cinema, porém pouco voluntarioso à própria história, seja pela incapacidade dos coadjuvantes da noite fugirem do lugar-comum, seja pela condução quase precária de Aïnouz pelo sofrimento tão dolorido e inesperado dessa mulher. E ainda há as versões da música, populares, distantes da força dos versos de Chico.