36 Vues du Pic Saint-Loup (2009 – FRA/ITA)
À beira de uma estrada minúscula, uma mulher (Jane Birkin) estaciona seu carro, capô levantado, completamente perdida. Passa um carro sport, alta velocidade, nem dá bola para a senhora necessitanto de ajuda. O carro volta, desce um sujeito (Sergio Castellito) bem vestido, de óculos escuros. Não abre a boca, dá uma olhada no capô levantado, mexe em alguma coisa e faz o carro pegar. Vai embora, sem se despedir, em silêncio.
Assim começa o último trabalho de Jacques Rivette. Praticamente uma traquinagem do doce cineasta frances, afinal, seu filme pouco se representa com essa abertura. Trata do mundo do circo, essa vida decadente e nômade. Mas também dos traumas humanos, das relações pessoais. Rivette praticamente filma o anti-romance, o italiano forasteiro pouco fala sobre si, porém vai se envolvendo com cada um dos cirsenses, ouve histórias, inspira, enquanto ascende a chama de sua paixão pelo circo, e um brinca com um inesperado flerte.
É reconfortante a maneira como Rivette homenageia os palhaços, brinca com a montagem ao oferecer em pedaços um dos números. É uma doçura angelical, mas, ao mesmo tempo, tem um quê de nonsense, nas relações, nos personagens, nessa coisa abstrata e finita que se configura no determinado tempo de duração desse filme.