Um sujeito arrumando as malas e olhando pela janela, onde um objeto está amarrado e pendurado para fora da janela. O desejo é latente em seu olhar, mas há outro homem no quarto, está claro que aquilo é um segredo, que ele não poderia simplesmente chegar até a janela sem despertar qualquer suspeita. Na janela havia uma garrafa pendurada, o escritor Don Birman (Ray Milland) sofre com alcoolismo.
A degradação humana exposta de forma crua por Billy Wilder, a perda da credibilidade e a humilhação se sobrepondo a falta de autocontrole, e Wilder traz um retrato cruel e sincero, simplesmente arrasador. No filme ele perde um fim de semana, que deveria marcar sua recuperação, no roteiro ele praticamente perde a vida, nenhuma dignidade, pedindo (até mesmo roubando) por uns trocados para mais uma dose. Wilder não faz nada além de retirar qualquer filtro e julgamento e mergulhar profundamente na incapacidade de controle, na necessidade pungente de mais um gole.
A marca dos copos molhados na mesa do bar, o reflexo da garrafa no lustre, ou o embate marcante entrerato e morcego, cenas brilhantes que perpetuam a performance mais que brilhante de Ray Milland. O flagelo humano e seu combustível para destruição, uma obra-prima maravilhosa.