La Fille de Nulle Part (2012 – FRA)
Uma jovem (Virgnie Legeay) apanhando na escadaria de um apartamento. Acaba socorrida por Michel (Jean-Claude Brisseau) que a acolhe em sua casa. Durante 30-40 minutos instigantes, a garota misteriosa e o escritor solitário tramam diálogos que, lentamente, desnudam um pouco de cada um deles. Enquanto a garota tenta preservar sua vida pessoal, seus detalhes, criando um ar misterioso e indepentedente, o apartamento já diz muito sobre aquele senhor. Livros e filmes espalhados por prateleiras, o silêncio de quem mora sozinho há décadas.
Essa presença jovial (quase um dom divino), oferece, não só a esperada quebra da rotina, como também uma dinâmica particular a Michel. Há nele um tensão, não sexual, algo mais afetuoso, como se a desconhecida pudesse, facilmente, preencher uma lacuna que ele camuflara até então. Brisseau deixa de lado o erotismo, trata diretamente de religião e de crenças espirituais, busca o encontro (e embate) de gerações via interesse intelectual.
Em dado momento, reencarnação surge como o grande tema. O amor que cruza séculos, as almas que se reencontram, obviamente que Brisseau trata de forma fria, verborrágica, jamais emocional. Na segunda metade o filme perde sua força, talvez pela obsessão de Michel, talvez pelas discussões filosóficas entre os dois que perderam o tom misterioso e flertam com o estilo de Rohmer, até o final caspicioso, meio insonso. A presença sobrenatural e o amor afetuoso, Brisseau muda o leme de seu navio, parte em busca de um lado espiritual, fala com a alma.