Filmado durante o centenário da Lei Áurea (abolição da escravidão no Brasil), o documentário retrata a condição do negro, e do preconceito, nesses cem anos. Desde depoimentos de ex-escravos, passando pela criação das escolas de samba no Rio de Janeiro, até manifestações nos anos 80 contra o preconceito racial.
A força do tema é óbvia, porém Eduardo Coutinho é quem foge do óbvio. Primeiro ao dividir a montagem entre passado e futuro, entre entrevistas com senhores centenários e dois narradores que leem um diário de um trabalhador de salins que construiu sua casa com suas próprias mãos. Em meio a isso, manifestações, protestos, moradores de rua, estudantes, todos os tipos de histórias sobre preconceito.
Dessa forma, Coutinho não constrói um simples panfleto acusatório, e sim um belo trabalho sobre a identidade cultural do negro, com direito a música e religião. Por esse fio de memória que a condição da maioria absoluta dos brasileiros é reconstituição desses cem doloridos e injustos anos.