Vic + Flo Ont Vu un Ours (2013 – CAN)
Todos os personagens parecem carregar o desconforto, o mau-humor. Como se a vida fosse uma desgostosa obrigação. Mesmo onde há bondade, a crueldade é a única forma de simpatia. Tento encontrar no termo “crueldade serena” uma tradução para a construção do cineasta Denis Côté. Seus personagens não são nada queridos, pouco amistosos, porém são formas de demarcar a individualidade, a busca por seu espaço num total desapego à relação em sociedade.
Chegam duas lésbicas a uma região campestre do Canadá (de origem francesa). Vic (Pierrette Robitaille), que já não é tão jovem, e a mais espevitada Flo (Romane Bohringer). São ex-presidiárias, sob observação da justiça que “tenta” participar da reintegração à sociedade. Mas, não esqueça que um dos temas de Côté é a crueldade, seja ela em pequenas formas (como no pouco amistoso relacionamento com os vizinhos), ou nos acontecimentos capitais do filme.
Côté é muito frio, e competente, em dar tempo ao filme, aos personagens, ao público, todos se acostumam com o universo, a atmosfera, a sensação de terra molhada que o ambiente proporciona. Até que, discretamente, as garras do passado comecem a aparecer. Até lá, já estamos completamente imersos naquele pequeno retrato de sociedade que Côté criou, e todos os elementos convergem de forma serena, por mais brutal que possa ser o final dessa história.
[…] Vic + Flo Viram um Urso, de Denis Côté […]
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