Parte de um projeto de filmes sobre a virada do milênio, o diretor Abderrahmane Sissako assume o protagonismo desse filme construído sem roteiro, que permite que a trama se desenvolva livremente entre a idiossincrancia da tecnologia dos anos 2000 e o atraso, e distância do “mundo”, de uma região simplória da África. A pequena rádio diverte a população, a comunicação via telefone é precária, o filme faz questão de repetidamente ter cenas demonstrando a dificuldade em trocar meio dúzia de palavras com o estrangeiro.
Há a questão da necessidade de partir, a questão do movimento é algo mais poético no trabalho de Sissako, contraponto com a aspereza seca com que vivem os locais de Sokolo, essa pequena vila no Mali. É tão belo e provocador, afinal, estamos imersos por novos computadores, a globalização, e há povos que vivem tão alheios a esses confortos, que nem sabem que precisam de tantas novidades que o novo milênio trazem. Ou melhor, eles não precisam, não são afetados pelo capitalismo que nos impõe necessidades, Sissoko mostra que há vida na Terra, mesmo que dessa forma tão “rudimentar”.