Primeiro filme da chamada Trilogia de Fontainhas, Pedro Costa e sua mistura de ficção e documentário, expõe de forma seca drama de fragelos humanos. Nada mais brutal ao público do que um bebê escapando de várias mortes. Da mãe desesperada que tenta o suício abrindo o gás do fogão, ao pai tentado a vender o bebê como única esperança aos dois. São apenas exemplos das relações humanas excludentes e completamente desesperançadas daqueles sobreviventes da rotina do subúrbio de Lisboa.
As peripécias da criança são mero argumento, a força da proposta de Costa está no pai, no apego pela coerência da sobrevivência alheia, enquanto enfrenta o terror da fome, da marginalidade humana, da total descrença de qualquer perspectiva. É nessa desesperança que Costa desenvolve sua fotografia suja, a utilização massiva da luz natural (e sua ausência), e a forma crua com que expõe aquele pai e o grupo de personagens que vivem próximos a ele. A sombra do suicídio como única saída ao suplício humano, Ossos é duro, como se aquele fragelos humanos tivessem perdido suas almas, restando-lhes apenas os ossos como única fortaleza.