A mais inesperada surpresa do último Festival de Berlim. Há no filme uma versão do cinema índio-mande-in-exportação, que joga contra o trabalho do diretor Jayro Bustamante. Porém, seria injusto resumi-lo dessa forma. O cinema denúncia travestido de arthouse funciona perfeitamente, começando pelos inúmeros planos fechados, aquela imagem enorme, que torna pessoas e objetos tão grandes. Bustamante se aproveita do artifício e explora a convivência de seus personagens com a vegetação, aos pés do vulcão Ixcanul. Os temas são os mais variados, e costumeiros do cinema latino, de abuso de pobres, ou mulheres, a obsessão da imigração como única salvação.
Utlizando não-atores da comunidade indígena retratada, Bustamante expõe costumes locais, a sabedoria popular, enquanto apresenta a deterioração da comunidade na relação (cada vez mais presente) com costumes “urbanos”. A trama usa todos esses conceitos, e as riqueza de cores e tradições, para buscar na tragédia sua incontestável crítica social. Se não apela ao melodrama, usa dos clichês para dar seu toque especial no que o cinema já cansou de retratar.