Sieranevada (2016 – ROM)
Cristi Puiu pega emprestado os dramas de uma família para criar um crítico retrato de seu país. A primeira cena já dá os indícios dessa espécie de testemunho que a câmera irá permitir ao público, num longo plano acompanha um carro parado, atrapalhando o transito. A rua espremida, pessoas buzinando, enquanto o casal pega a filha (na escola, num curso, algo do tipo). O pai precisa manobrar, virar a esquina, o caos está formado, e a câmera segue acompanhando o desfecho, como se estivéssemos do outro lado da rua, vendo algo cotidiano.
Grande parte do filme (de quase 3 horas) transcorrerá dentro de um casa, e as tomadas se dividem entre cada um dos ambientes, e em particular no corredor, onde é possível observar umas quatro portas de cômodos, onde podemos ouvir as conversas, se estar propriamente naquele quarto. A família se divide entre os ambientes enquanto os preparativos para uma espécie de celebração fúnebre está prestes a acontecer. Algumas mulheres na cozinha terminam o almoço, outras fofocam num quarto. Os homens discutem sobre o 11 de Setembro e outras teorias da conspiração. Tudo isso enquanto o celebrante religioso não chega.
Do caótico Puiu faz o retrato cotidiano dessa família, brigas e escândalos, o choque entre o conservador e a juventude, os costumes e a incomunicabilidade. Nesse universo rico e heterogênea, surgem inúmeras possibilidades para o cineasta flagar comportamentos e causar reflexões (sobretudo heranças das mutações políticas da Romênia desde os anos 90). Engraçado e provocador, muitas vezes beirando o absurdo de só quem tem família grande pode compreender, mas Puiu novamente entrega um filme vigoroso, e repleto de interpretações de quem está enxergando sua cultura e o caos pós-tempestade.
[…] Sieranevada, de Cristi Puiu […]
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