Estopô Balaio (2017 – BRA)
Sempre curioso quando um filme resgata alguma questão afetiva pessoal mais forte, o documentário de Cristiano Burlan me fez recordar da minha avó e de parte da minha infância imediatamente. Explico: durante muitos anos, para as visitar semanais que fazíamos, precisava esperar por horas o ônibus Jardim Romano, que ficava muito perto de sua casa.
Lá, diversas vezes, ouvia histórias das dificuldades dos moradores do bairro, principalmente das enchentes. E o documentário mira exatamente nessas lembranças, as cruéis e absurdas histórias absurdas das enchentes. Um bairro de pessoas tão humildes e que perderam muitos bens materiais (sofá, cama, televisão), mas principalmente enfrentaram semanas vivendo em ruas que se tornaram rios, com água até o joelho, e chegando a se locomover de barco. Entre o absurdo e o descaso, um local só recordado, pelo restante da cidade, quando a situação atinge um ponto de aberração desse tipo.
Entre personagens encatadoras e pequenos movimentos culturais, Burlan nos convida a alternar a tragédia coletiva em pequenas tragédias pessoais aos nos apresentar a vida cotidianda de alguns personagens. Num paralelo recordar histórias e capas de jornal, enquanto faz um paralelo com alguns movimentos culturais do bairro que tentam resgatar a vida em coletivo e as desesperanças pessoais. Dentro da simplicidade de sua proposta, Estopô Balaio deixa registrado quem vive como todos, mas ainda clama apenas pelo básico.