The Card Counter (2021 – EUA)
Paul Schrader, Abel Ferrara e Paul Verhoeven são três cineastas cujas filmografias sempre me revelaram semelhanças curiosas de personagens que preferiam a marginalidade, que tinham uma maneira própria de lidar com o sexo e com violência. Cada um tem suas características, mas essas semelhanças “sujas” permearam suas carreiras e aproximavam seus filmes. Todos são veteranos, e a maturidade tem resultado em novas fases, como se esses personagens masculinos olham-se para trás e tivessem muito a refletir ou ensinar. O trabalho anterior de Schrader colocava a religião no centro, seu novo filme tem os cassinos só para camuflar seu verdadeiro tema (sugiro fortemente assistir antes de ler qualquer coisa porque descobrir os personanes é um dos prazeres do filme).
Tudo isso para dizer que o filme de Schrader tem o jogador misterioso como protagonista, misterioso mas que o inesperado encontro com um jovem faz surgir um desejo de ajudar, de se doar. Dali em diante vamos descobrir o passado, as feridas, a angustia represada e um desejo de vingança que nem ele ousa mais tocar. A construção de um personagem tão sólido, numa primeira impressão, mas que se desfaz pouco-a-pouco é um dos pontos altos da dupla Schrader-Isaac, e bem na reta final o filme se aproxima ainda mais de First Reformed, quando Schrader mostra que é um veterano que não abandona suas origens, só que o faz agora com elegância.