Gisaengchung / Parasite (2019 – COR)
Bacurau, Nós, Coringa, e agora Parasita. Alguns dos principais filmes do ano carregam o encontro da violência e luta pela sobrevivência no confronto entre os privilegiados e os não-privilegiados. Seja no nordeste do Brasil, em Gotham City, nos duplos no subsolo e na Coréia do Sul. É o cinema trazendo à tona a completa insatisfação global que chega à flor da pele, e pode explicar porque tantos governos extremistas tem ocupado um espaço que não mais lhes pertencia.
O filme de Bong Joon-ho é excelente em todos os aspectos, do tom crítico aproveitando-se de um humor ligeiro e moderno, das atuações precisas (com personagens que variam de vigaristas a ingênuos-românticos), do domínio completo da arte do cinema entre trilha sonora, timing, movimentos de câmera, é uma aula milimétrica para encaixar o roteiro arquitetado dentro desse estilo tão caro ao cinema sul-coreano de misturar gêneros.
E enquanto você se deleita com essa direção impecável, entre cenas marcantes, as sacadas de crítica social são ainda mais interessantes e intrigantes. Esse confronto entre pobre e rico, entre malandro e ingênuo, a violência gráfica e debochada. Da futilidade à autoproteção sem piedade, está tudo lá exemplificado e criticado, mas quando entra em cena a segregação de classes pelo cheiro, Bong chega num outro patamar, seu filme chega num outro patamar, o preconceito como algo primitivo, natural, não é só a questão de estar sem privilegios e precisar “roubar” wifi de alguém, é mais a questão de ser mesmo.