The Dreamers (2003 – ITA/EUA/FRA/RU) 




As ruas de Paris fervilhando, a juventude intelectual bradando em protestos contra a demissão de Henri Langlois do comando da Cinemateca Francesa. Movimentos estudantis e operários de esquerda, munidos de coquetéis molotov, confrontavam-se com a polícia, governos acusados ferozmente de fascismo. Os protetos de maio de 1968 mobilizaram o mundo, jovens de grandes centros como Praga, São Paulo e Rio de Janeiro também manifestavam seus ideais comunistas. Sem dúvida, Paris foi o grande rolo propulsor da efervescência cultural e política que tomou conta da juventude naqueles anos, nomes como Truffaut e Godard eram alguns desses idealistas.
Bernardo Bertolucci vem com a adaptação do livro The Holy Innocentes, revive os anos efervescentes. Os três personagens dão o ar da graça pelas ruas, apenas um leve gostinho do tema político. A verdadeira revolução dos três acontece dentro de um apartamento. No meio do tumulto da demissão de Langlois, na porta da Cinemateca, os irmãos gêmeos Theo (Louis Garrel) e Isabelle (Eva Green) conheceram o ingênuo norte-americano Matthew (Michael Pitt), e os cinéfilos inveterados convidam o estrangeiro a passar uns dias no apartamento da família enquanto os pais estariam viajando.
A fuga completa da realidade é estabelecida por esses jovens, a relação mais do que íntima dos irmãos encontra em Matthew a perfeita simetria de desejos libertários. Jogos sexuais envolvendo adivinhações cinéfilas, conversas pseudo-filosóficas, discussões inflamadas pela preferência por Hendrix ou Clapton, Keaton ou Chaplin, a descoberta do corpo e do amor. Enquanto discutem seus ideais reacionários, no conforto do lar regado a um vinho caro, milhares manifestavam nas ruas essas idéias panfletárias. Uma espécie de realidade paralela.
Os Sonhadores parece embalado para o mercado comercial americano, além de falado em Inglês, quase tudo o que é discutido baseia-se na cultura artística dos EUA, seja pela maravilhosa trilha sonora de Janis Joplin, The Doors e outros, seja pelas referências cinéfilas como Fred Astaire, Howard Hawks, Nicholas Ray e companhia. O filme faz a alegria dos cinéfilos, mas perde-se pela exclusão do momento, pela exaustiva maratona de transformar esses personagens na própria. Bertolucci está certíssimo em afirmar que seu filme não é político,pende mais para realização de sonhos de jovens excêntricos.