La Femme D’à Côté (1981 – FRA) 




Não poderia enveredar-se por outros caminhos, a história de amor envolvendo Bernard e Mathilde: “Nem com você, nem sem você”. O ambiente trágico é observado já no tom de abertura, conduzido pela encantadora Madame Odile Jouve, a administradora do clube de tênis que se presta a narrar os essenciais seis meses anteriores ao ocorrido.
Em Grenoble, interior da França, mora Bernard Coudray (Gérard Depardieu), com sua esposa e o pequeno Thomas. Escolheram a região para desfrutar da natureza e da tranqüilidade que o campo oferece. Após alguns anos, a casa ao lado finalmente é alugada. Como de praxe, Bernard é solicito, tenta ser gentil ao casal de novos vizinhos. Isso até descobrir quem eram os locatários do imóvel, o reencontro com Mathilde Bouchard (Fanny Ardant) traz a tona à paixão de oito anos perdida. O passado parece reviver ferozmente, e o reencontro demonstra que o conturbado romance apenas hibernava em seus corações.
Num primeiro momento relutam, escondem de seus cônjuges que já se conheciam, mas o amor asfixiado entra em erupção como um vulcão adormecido. O sentimento de ambos é explosivo e controverso, quanto mais querem distanciar-se, mais próximos ficam. Os motivos da separação anterior surgem com a mesma magnitude da paixão, não conseguem agir normalmente, é cada vez mais difícil esconder a situação. A atração física é muito mais forte do que a coerência que teima em separá-los.
Este não possui o mesmo frescor de trabalhos anteriores de François Truffaut, isso não significa demérito, apenas diferença. A fotografia é carregada nos tons escuros, os sentimentos estão sufocados, causando picos de dramaticidade e eclodindo em reações espontâneas e destemperadas. A história é narrada em estilo clássico e as atenções centradas nas atuações da dupla Ardant-Depardieu, como se o filme tivesse menos de Truffaut do que outros, e assim o cineasta dividisse o peso da responsabilidade com a dupla.
Cada passo do roteiro está antecipadamente descrito na mente do público, a ausência de surpresas faz da história coerente, porém marcada. Truffaut faz tudo corretamente, prova maior é a cena máxima que está coberta de suspense e beleza. Desenvolve os coadjuvantes para que não sejam apenas figuras decorativas, transforma o dia-a-dia do romance em arma para resgatar passagens que marcaram o passado deles juntos.