The Wolf of Wall Street (2013 – EUA) 




Martin Scorsese já lançou muitas tendências, já esteve muitas vezes a frente do seu tempo. Ele foi um dos que ressuscitaram o cinema criativo americano (nos anos 70), transformou filmes em clássicos, marcou uma era. Um cara com o talento com o dele, vira e mexe se reinventa, é inexplicável, simplesmente é assim. Enquanto outros tentam se consagrar copiando suas fórmulas (e até mesmo os óculo, não é David O. Russel?), Scorsese vem com algo inusitado, diferente. Um filme debochado, exagerado, com atuações “over” e o humor regado a descaramento e sexo.
Adaptando a autobiografia de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), um corretor da bolsa de valores, que acertou na vida, e enriqueceu, enganando clientes e vivendo de tramoias, Martin Scorsese estraçalha com o sonho do americano médio de um mundo de oportunidades. Troca o glamour por uma obsessão doentio por tudo que é proibido e mal interpretado pela sociedade. Nosso protagonista simpático é um bandido do colarinho branco, viciado em drogas, e principalmente em sexo. Leva a vida num grande deboche porque ganha milhões e pode transar com mulheres sob milhares de dólares.
Um show de DiCaprio, cuja interpretação parece a congruência daquela de o Aviador com o Tom Cruise de Magnólia, recheado desse saboroso descaramento sem limites. A perfeita unificação de jovialidade com a teimosia de quem é o dono do mundo, intocável e inalcançável, a a arrogância com a naturalidade dos milhões de dólares.
As longas três horas de duração prejudicam o filme, a última sofre de uma edição mais enxuta, de um polimento que os personagens extrapolados não permitiram. A narração em off, que funciona tão bem para o lado humorístico da trama, cai no banal quando entra em cena o FBI e todo o patriotismo americano (que de uma forma ou de outra está enraizada em casa todos os americanos, Scorsese inclusive). Como resultado final, o Lobo é pura injeção de adrenalina num cinema que patina entre os filmes grandiosos e os indies, sempre entre clichês comerciais focados em bilheteria e nunca no filme em si. Scorsese faz vibrar com cenas beirando o ridículo, mas que no contexto soam tão engraçadas.