The Reader (2008 – EUA/ALE)
Stephen Daldry posiciona-se como um cineasta de estilo acadêmico, com convicções formadas e de coesão reluzente. Em algum momento seus personagens, impreterivelmente, enfrentarão a culpa (e provavelmente dela não se libertarão). O Leitor inicia-se sob um romance polêmico, uma mulher vivendo um romance com um adolescente de quinze anos. Ela é prática, direta, coloca-se rigorosamente no papel de amante, e principalmente de tutora sexual do garoto que apenas derrama-se de paixão pela mulher madura de belos traços. Antes ou depois do sexo ele lê, desde romances a Odisséia de Homero, e a mera “cobradora” de bonde sorri, chora, emociona-se com as interpretações de Michael (David Kross). Até que Hanna (Kate Winslet) desapareça misteriosamente da vida do garoto, mas aí já mergulhamos nos personagens e compreendemos a rebeldia familiar de Michael e os limites da vida suburbana de Hanna.
Se a primeira parte apontava para esse romance polêmico, calcada nas fortes cenas de sexo e no aprofundamento literário, o roteiro baseado no livro de Bernhard Schlink traz o reencontro após oito anos da ruptura. E a vida magoada do garoto de coração partido parece o menor dos temas, a discussão parte para os crimes nazistas, para a participação e culpa de soldados nas atrocidades xenófobas, para sequencias de um julgamento marcada pela sinceridade, pela ingenuidade, e principalmente pela inocência de quem escolhia mulheres que seriam executadas como ovos para fazer a massa de um bolo. O ponto forte do filme é exatamente a complexa relação que o público responderá após toda a bagagem de conhecimento dos personagens quando da fase mais romântica. O filme humaniza vilões, sem redimir pecados, apenas mostra maneiras diferentes de se olhar fatos, e nos coloca numa discussão que pode nos levar a uma análise no futuro de atos que cometemos no presente e podem ser graves no futuro (claro que no filme trata-se de um esfera muito mais eclipsada, incomparável).
Daldry peca em detalhes, alguns reclamam da falta de cuidado no envelhecimento de Kate Winslet, quando os problemas maiores são outros como a equivocada escolha de Ralph Fienes para atuar como um alemão gastando um inglês com tom tão fortemente britânico. Aliás, uma história tão alemã falada em inglês é praticamente um sacrilégio. E não é só isso, a necessidade de oferecer respostas, de trazer um pré-julgamento dos personagens, esconda a profundidade da discussão, só que quando resume toda essa história num simples segredo que revelado mudaria o rumo de tantas coisas, o filme recupera seu brilho e novamente nos oferece discussão, análise e boa dose de polêmica.