Pacarrete (2019)
Sensação no Festival de Gramado, o longa-metragem dirigido por Allan Deberton oferece a Marcélia Cartaxo palco para ela brilhar numa personagem controversa, divertida, e profundamente triste. Ela nos faz rir com sua empolgação dos tempos de bailarina em Fortaleza, sua mania de misturar o francês e o português, e de beber de um tipo de cultura artística que não dialoga muito com o gosto popular. Na pequena cidade de Russas, tudo soa como excêntrico, e suas manias e egocentrismo apenas a tornam uma moradora peculiar, imcompreendida, quase uma megera.
Em entrevistas, o cineasta afirma que conheceu a verdadeira Pacarrete na infância, e não é de surpreender que alguém assim viva alimentada de seus sonhos, suas paixões obsessivas e dessa fuga da realidade. De outro lado, toda essa empolgação e via cômica guarda uma pessoa tão solitária, e amargurada por suas decepções. Nesses momentos, Cartaxo volta a surpreender com com essa sensação de pesar, com o desencanto de quem não perde a pose, mas por dentro vive em frangalhos.