Rasga Coração (2018)
Ainda me surpreendo, negativamente, com o desinteresse do público pelo cinema nacional, ou a própria desconexão dos filmes com esse público. O novo filme de um diretor como Jorge Furtado, não poderia chegar assim, de mansinho, na reta final do ano, seus filmes anteriores e trabalhos na tv o credencial a uma atenção bem maior. Dito isso, o diretor e roteirista gaúcho mantém sua capacidade de falar com os mais diferentes públicos, de trazer humor para debates relevantes, e uma narrativa marcada pela simplicidade.
Adaptando uma peça de teatro, a narrativa se divide em duas épocas. Nos dias de hoje, um casal de classe média em conflito com o filho que aderiu ao mundo vegano, que só anda de bicicleta para proteger o planeta e etc. Esse pai (Marco Ricca) é o jovem que enfreta seu pai moralista durante a ditadura Militar.
O filme trata desses conflitos de gerações, principalmente o poder do amadurecimento x o idealismo juvenil. Nesse contexto explora política, do macro até a política do nosso cotidiano, a relação pai x filha, marido x esposa na casa dos cinquenta anos.
Talvez a trama em flashback sofra com irregularidade, quase trampolim para a história dos dias atuais, mas é um filme interessante e que dialoga tanto com a situação atual. Os filmes todos de Furtado são assim, tentam se diferenciar muito entre si, mas são carregados de uma pegada jovem e de uma fluidez narrativa, por isso mereciam mais interesse. Inclusive, talvez seja este seu melhor filme, e todos sempre deixam o gostinho de que o próximo vai ser um dos bons. Que venha esse tão aguardado.