In a Lonely Place (1950 – EUA)
Realmente se trata da história de um roteirista (Humphrey Bogart) sendo investigado pela morte de uma jovem que foi vista poucas horas antes saindo de sua casa? Não sei ao certo, vejo mais como um filme quase inclassificável, a perfeita simetria de gêneros sob os contornos do noir. Mais do que a simples transformação de um homem durão num louco apaixonado, Nicholas Ray utiliza uma habilidade vigorosa em construir a teia capaz de reter o público. São rompantes romanticos, declarações ásperas e inteligentes frente à polícia, e a criação de uma atmosfera de insegurança que não traz apenas dúvidas sobre o real assassino, como também transborda em medo e preocupação a mulher amada (Gloria Grahame).
Até o final apoteótico (sem dúvida uma das melhores e mais emocionantes sequencias finais da história do cinema) temos um trabalho em dupla de Ray-Bogart nessa construção minuciosa e poderosa de uma persona riquíssima, curiosa, explosiva, quase apocalítptica e cruel, e, ainda assim, doce e terna. Porém, acima de tudo, há uma essencia, romantic, nosso roteirista não se interessava por história alguma e de repente passa a escrever compulsivamente, de momento inspirador nasce “eu nasci quando ela me beijou, morri quando me deixou, e vivi algumas semanas enquanto ela me amou”, Ray já estava ali resumindo seu filme, o restante trata-se apenas da forma magistral com que o cineasta resolveu conduzir toda essa trama, como um calculista namorado que enche de presentes a namorada na noite de Natal, mas guarda para o momento da despedida aquele que ela nem esperava, porém mais queria. Terminamos o filme assim, atonitos, acreditando que aquele final era possível, factível, e acachapante.