Antes de mais nada, é importante destacar, que a análise e a escolha dos melhores filmes do ano de 2016 ficou comprometida pela ausência de alguns dos principais destaques da temporada. Estes filmes já pintam como favoritos a participar da lista do ano que vem. Não foi possível descobrir filmes como Nocturama, Personal Shopper, Manchester à Beira-Mar, Moonlight, La la Land e Hermia & Helena.
Lembrando que valem filmes lançados em até dois anos atrás, portanto a partir de 2014, e vistos por esse blog no decorrer de 2016.
- Elle, de Paul Verhoeven
- Sieranevada, de Cristi Puiu
- Canção para um Doloroso Mistério, de Lav Diaz
- Aquarius, de Kleber Mendonça Filho
- Toni Erdmann, de Maren Ade
- Certas Mulheres, de Kelly Reichardt
- O. J.: Made in America, de Ezra Edelman
- Martírio, de Vincent Carelli
- Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, de Richard Linklater
- Os Pensamentos que Outrora Tivemos, de Thom Andersen
- Correspondências, de Rita Gomes de Azevedo
- Porto, de Gabe Klinger
- Belos Sonhos, de Marco Bellocchio
- A Qualquer Custo, de David Mackenzie
- Loving, de Jeff Nichols
- O Que Está Por Vir, de Mia Hansen-Love
- Três, de Johnnie To
- Rua Cloverfield, 10, de Dan Trachtenberg
- Homo Sapiens, de Nikolaus Geyrhalter
- John From, de João Nicolau
- Graduation, de Cristian Mungiu
- A Grande Aposta, de
- Paterson, de Jim Jarmusch
- A 13ª Emenda, de Ava Duvernay
- O Filho de Joseph, de Eugène Green
Dito isso, a primeira análise possível é destacar a quantidade de grandes filmes que tem mulheres como protagonistas. São personagens fortes e marcantes, e que fogem de um clichê fragilizado. Ao contrário, são personagens extremamente determinadas, e de graus de complexidade, e camadas, que não só traduzem diferentes posições das mulheres na sociedade atual, como finalmente oferecem tratamento igualitário.
Peguemos os exemplos de Elle e Aquarius, onde Isabelle Huppert e Sonia Braga lutam por seus anseios pessoais, sejam eles profissionais ou amorosos, se permitem manter a sexualidade ativa e decidida, e compram briga com a juventude sem qualquer medo que qualquer discussão fuga da argumentação. São mulheres vibrantes, independentes, modernas e ainda assim influenciadas pelo passado. Nessa mesma linha há aquele que foi considerado pela critica o filme do ano, em Toni Erdmann temos o embate entre pai e filha, ela uma executiva workaholic, distante da família e fria nas decisões profissionais. A diretora alemã, Maren Ade, mistura as fragilidades e fortalezas dentro desse vulcão em erupção que é sua protagonista, aterrorizada pelo pai debochado e intrometido que quer sua atenção.
Se falamos em mulheres, o novo filme de Kelly Reichardt é o destaque ainda maior, afinal, são três histórias e quatro mulheres protagonizando tipos femininos dessa sociedade moderna americana. E novamente as fragilidades e fortalezas são destrinchadas com exímia sensibilidade.
Contraponto a tudo isso vem o novo filme de Richard Linklater, uma espécie de continuação espiritual do filme antecessor. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes acompanha um grupo de calouros da universidade que fazem parte do time de baseball, vivem de festas e de conhecer as garotas. Alguém pode sugerir uma visão machista, mas a sensibilidade de tratar a idade, pela visão masculina, e a aproximação com o sexo oposto, devem afastar esse pensamento inicial. Seu filme é outra ótima representação de uma juventude imatura, despreocupação com qualquer coisa além da diversão.
Dois documentários que dissecam seus temas são grande destaque do ano. Primeiramente O. J: Made in America que não só refaz toda a trajetória do crime que marcou os EUA, com seu grande astro de futebol americano, como contextualiza a questão negra à época e sabiamente relaciona os desfechos do julgamento. No Brasil, Martírio (que será lançado em circuito em 2017) é extremamente atual e estuda a questão do índio. É um retrato completo e constrangedor de um país que privilegia sempre o mercado frente o ser humano. Falando em política, novamente temos Lav Diaz resgatando a história de seu país (Filipinas). Numa viagem de oito horas de um cinema vigoroso, viajamos pela história de ditadores, burguesia fútil e a caça aos lideres da revolução que pregam democracia e liberdade.
Dessa forma temos política, preconceito, violência e injustiça representados no cinema, talvez tenha faltado aqui a questão que aflige a Europa que é a imigração e o terrorismo. E, para encerrar essa pequena amostra, outro documentário de Thom Andersen. Os Pensamentos que Outro Tivemos é um delicioso estudo a partir de livros de Deleuze, a partir de ciclos de destruição e restauração e exemplos caldos no cinema de Godard, Cassavetes, Griffith e Pedro Costa. Representa um cinema que enxerga para dentro da sétima arte, que analisa, questiona e compara a si próprio, uma autocritica e uma autorreferencia instigante.