Dramaticamente contido desde os primeiros takes. Nelly (Nina Hoss) acaba de sobreviver aos campos de concetração na Segunda Guerra Mundial, rosto desfigurado, única sobrevivente da família. Seu drama maior não é a perda, as cicatrizes das lembranças, a humilhação. Não, o drama maior dessa mulher é de recuperar seu rosto, tal qual era, para que possa ser novamente reconhecida. E reencontrar seu marido alemão (Ronald Zerhfeld), retomar sua vida.
Por essa narrativa contida, e o próprio tom de atuação de Nina Hoss, o diretor Christian Petzold constrói a fascinante história da mulher que si à procura do marido, descobre verdades, ainda assim mantém sua busca. Não é reconhecida por ele, e entra num jogo perigoso, o marido quer ter acesso ao dinheiro da esposa, e pede a ela que aprende a agir como sua esposa. Sim, o jogo de fingir que ela, é ela mesma. Imagine a dor de sobreviver ao horror dos campos de concetração e não ser reconhecida pelo próprio marido?
Enquanto flerta com o cinema clássico de Fassbinder, e essa mulher forte como a protagonita de Vertigo (de Hitchcock), Petzold prepara a armadilha, para o próprio público. Sem nunca sair do tom comedido, surge a cena final. O charme da canção Speak Low, cantada quase em murmúrios, e a desconstrução dos personagens. É o encerramento perfeito de um filme que parecia fadado ao reprimido.“Love is a spark, lost in the dark too soon…”