Spike Jonze começa com uma premonição do futuro. As relações humanas tão complicadas e a proximidade com a tecnologia tão acelerada, em qual futuro estaremos nos relacionando com as máquinas? O plot é lindo, solitário (Joaquin Phoenix) se apaixona por um software que fala com ele (Scarlett Johansson). Espaço aberto para a ternura e a melancolia.
Spike Jonze usa de tons de laranja (vermelho também, mas em menor escala) de uma forma que, provavelmente, jamais se fez (só quem teve uma persiana laranja na sala, como eu, sabe do que estou falando). A opção estética traz cores vivas, iluminação brilhante, um confronto oposto a melancólica exacerbada que o protagonista carrega. É lindo vê-lo em estado de graça, apaixonado por aquela voz que parece corresponder a tudo que ele gostaria de ouvir/sentir/viver.
Por outro lado, esse tom melancólico parece uns dois tons acima do que deveria ser, tudo está impregnado dele. Tanto que, aliado a outras características, o que se pergunta é: o quanto esse filme é uma resposta a Encontros e Desencontros (de Sofia Coppola). Jonze e Coppola viveram juntos e após a separação ela gravou o filme.
A teoria é de que Rooney Mara seria a representação de Sofia, e Phoenix e a tradução da própria melancolia de Jonze. Faz sentido, e sabemos bem que é dessa fase de magoas que muitos artistas transcendem a maior de suas inspirações. Mas, falta ao filme de Jonze sentimento. Afinal, ele está apaixonado (mesmo que por um software), a melancolia é tão grande e poderosa que engole tudo, até o final espertinho. E Amy Adams? Fazendo o que ali? Jonze começa bem com sua premonição até morrer envaidecido por sua própria ideia, afinal não encontrou uma forma de fluir.