Vera (Denise Fraga) está de mudança. O tal de abrir caixas, escolher onde os móveis ficarão, encontrar pequenos problemas aqui e ali – como uma torneira que não para de pingar. Nesse turbilhão de novidades e pequenas preocupações, ela reencontra um fantasma do passado e a mudança se torna um ajuste de contas entre acusações e emoções.
Todo filmado dentro do apartamento, a diretora Tata Amaral resgata a ditatura militar (o público já cansou desse tema, só os cineastas brasileiros não perceberam) com lembranças das torturas, desaparecidos e a ferida que não cicatriza. A sensação claustrofóbica de um Quem Tem Medo de Virginia Wolf?, ou até mesmo de um Deus da Carnificina, não chega a ser projetada com a mesma eficiência.
Enquanto a tensão toma conta de Vera, dois homens carregam a mudança, praticamente sem função na trama a não ser trazê-la novamente à realidade. O desenrolar justifica o retorno ao tema, mas a total despreocupação com a existência de smartphones em 1998 (filme se passa nessa data) é apenas um exemplo da maneira carinhosa, porém nada descuidada com que o filme é todo construído.